Neste sábado, 11 terreiros de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno se reuniram para o evento “Umbanda Unida”, na Praça dos Orixás Aos s...
Aos sons dos atabaques e às margens do Lago Paranoá, religiões de matriz africana realizaram o evento “Umbanda Unida”, neste sábado (23), na Praça dos Orixás, em Brasília (DF). O evento, que busca transcender os segmentos da população que praticam as religiões de matriz africana, reuniu cerca de onze terreiros de umbanda e candomblé do Distrito Federal, Luziânia (GO) e Águas Lindas (GO), apoiadores e simpatizantes da religião.
Realizado pela primeira vez na capital federal, o evento foi organizado por várias casas de axé, - cada uma delas lideradas por Pai Deivid de Ogum, Mãe Beth de Iansã, Pai Francisco, Pai Antônio, Mãe Michelle, Pai Emerson, Pai Caio de Xangô, Pai Sérgio, Pai Alex, Pai Marcelo, Pai Fábio de Xangô e Pai Antônio de Maré -, com o apoio da Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e entorno.
Frente ao aumento dos casos de intolerância religiosa contra os terreiros, o evento buscou mostrar como são realizados os trabalhos nas casas de axé. Um estudo, realizado em 2018 pela Fundação Palmares, Ministério da Cultura e UnB mapeou cerca de 330 terreiros no Distrito Federal e entorno, sendo 57% destes pertencentes a umbanda.
Pai Deivid de Ogum, da Tenda Pai João da Caridade, em Luziânia (GO), falou como surgiu a iniciativa de realizar o evento. “Umbanda Unida, nasceu dos diálogos entre os líderes religiosas, pais e mães de Santo, pois essa união, essa corrente não pode acabar, não se acabará”, afirma o líder religioso.
Mãe Beth de Iansã, destacou a importância a realização do evento. “Estamos aqui com todo o amor, com todo o carinho, com toda a fé para celebrando os nossos orixás, que é tudo que a gente tem na nossa vida. É as nossas identidades que vamos carregar para o resto da vida, não foi nós que escolhemos, foram os orixás que nos escolheram”, destacou. “Por uma umbanda unida e contra a intolerância religiosa, nossos tambores nunca podem parar de tocar. Nunca! Por nada! A gente tem que reagir, a gente tem que correr atrás”, orienta o caminho, a líder religiosa do Terreiro Sol do Oriente, em Águas Lindas (GO).
O presidente da Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno, Rafael Moreira falou sobre a união das religiões de matriz africana, “este evento, Umbanda Unida, deve ser realizado mais vezes, esse aqui é só o primeiro, a união da nossa religião é fundamental”, assegura Moreira.
A Deputada Federal Erika Kokay, presente no evento, apontou que a luta “para que tenhamos a revitalização de espaços, como a praça dos Orixás, é fundamental para que nunca mais tenhamos que ver os orixás sendo agredidos, agredidos pelo racismo religioso”.
A parlamentar ainda reforçou que, o que acontece com as religiões de matriz africana, “não é apenas intolerância, é o racismo religioso, porque eles não suportam o toque dos tambores, nem suportam a força que tem os povos tradicionais da crença africana, que resistiram a toda tentativa de silenciamento. Por isso, hoje nós temos aqui com na praça [dos Orixás] com as saias rodadas, com nossos fios de contas e os tambores para dizer que nós temos uma africanidade que significa a nossa força, a nossa ancestralidade”.
A generosidade, caridade e o acolhimento de todas as pessoas são um dos fatores que unem as casas de umbanda e candomblé, “por isso, é fundamental para estar nas políticas públicas, seja de saúde, de combate à própria fome de cultura e de meio ambiente. Porque Orixá respeita meio ambiente e os povos tradicionais respeitam o meio ambiente”, disse Erika Kokay que ainda falou da importância do evento.
“Aqui, no Umbanda Unida, a gente tem noção exata da força que a Umbanda tem no nosso país. Essa força, ela irá fazer com que nós tenhamos o respeito à Umbanda, que é brasileira, mas que vem trazendo as matrizes africanas”, finalizou a parlamentar que há anos tem encampado a luta dos povos de matriz africana no Congresso Nacional.
🌿 Praça dos Orixás
As margens do Lago Paranoá, a prainha como também conhecida a Praça dos Orixás, às margens do Lago Paranoá, ao lado da Ponte Honestino Guimarães, é Patrimônio Cultural Imaterial do Distrito Federal instituído pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural do DF (Condepac). O local é mais conhecido pela festa de Iemanjá realizado em fevereiro e pelas festividades do réveillon.
O espaço destinados às religiões de matriz africana tem sido alvo de depredação e intolerância religiosa. Na avaliação de Mãe Beth de Iansã a depredação do local físico é um reflexo do que os terreiros e casas espíritas enfrentam no DF e entorno. “Ocupar esse espaço é símbolo de resistência para nós umbandistas”, conclui a líder religiosa do Terreiro Sol do Oriente.
📸 Texto e fotos: Adi Spezia, do Terreiro Sol do Oriente
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